Papae

     Cruel mez este em que a morte, sem a menor compaixão, te arrebatou do numero dos vivos. Cruel instante aquelle em que tivemos de levar o teu corpo para a morada eterna, onde já dormem o somno da tranquillidade os nossos avós. Pae! Hoje que não mais estás entre nós, que não podemos ouvir de tua bocca os conselhos sabios de tua experiencia, oh como dóe em nossas almas o termos de nos resignar! Oh! Como a dôr da separação nos vem dictar bem alto, pela vóz da consciencia as terriveis sentenças que nos prostam inanimados e mudos ante a memoria tua que jamais se apagará dos nossos angustiosos corações de filhos!
     Pae, foste um martyr e soubeste com resignação affrontar os revezes da sorte nunca proferindo blasphemias contra elles, que são a revelação de um caracter ambicioso e sem a sensatez d´aquelles que esperam e confiam no dia que ha de vir.
     Quanto dóe na alma saber que pela tua dedicação, foste forçado a supportar o peso de um martyrio duas vezes maior ás tuas forças!...
     Venceste afinal, dando provas do quanto pode uma alma que espalha o bem e não o quer para si: quando pode afinal um amor de pae, que quer o bem d´aquelles que são pedaços de sua alma!
     E hoje que descanças em paz na graça do Senhor, como são monotonos os dias que passam e que vão afastando mais e mais a tua existencia de sobre a face terrena, e mais ampliando esta saudade que como punhal acerado dilacera os corações que choram e anceiam pela tua volta!
     Ainda são vividos aquelles momentos angustiosos da terrivel molestia que minou dia a dia o teu corpo, e o abateu como o lenhador abate o pinheiro, aos golpes rudes do machado!
     Quantas lagrimas chorei antes, por ver que nada havia o que detivesse a marcha incessante d´aquella cruel enfermidade, e como me senti pequeno ante a vontade suprema do Creador que o chamava para junto de si!
     CONSUMATUM EST!...
     Phrase que nos diz bem alto do poder de Deus, e nos mostra o fim de tudo o que o homem na sua eterna vaidade, por seculos e seculos tenta impedir que se realise.
     Pae a tua obra não findou ainda. Com os corações oppressos pelas duras provações porque teem passado, teus filhos aqui vivem e sentem, como viveste e sentiste por annos, dias, e minutos com a tua preciosa existencia.
     A mesma aureola que te cingiu, essa nos servirá tambem, e o mesmo lema que escolheste para as tuas acções será o nosso lema.
     Porque ambições, porque vaidades, porque orgulho? Tudo se consome com o correr dos annos, e tudo se esvae como a fumaça atirada para o ether. D´uma casa não ficam nem as ruinas para attestarem algo sobre a sua vida.
     Assim aos poucos vamos todos para o infinito, para o indecifravel, só ficando como marco indelevel a boa acção que fructifica no exemplo para as gerações futuras.
     Descança pae, no teu tumulo humilde onde flores viçosas que se curvarão ao sopro da aragem attestarão que jamais serás esquecido, até o dia em que nos juntaremos a ti para o repouso bem-aventurado ao teu lado.
     E de lá do outro lado, onde talvez estejas fruindo as delicias de uma vida feliz ao lado d´aquella que foi tua companheira, e nossa mãe, pedimos-te a benção, scientes de que se alguma vez erramos relevarás com o teu amor infinito de pae.

ARION WERNECK (filho de Adolpho Werneck, em "O Dia" de 24/08/1932)

Adolpho Werneck no Clube de Autores

https://clubedeautores.com.br/book/260891--Adolpho_Werneck_Vida_e_Obra#.W2RKtVVKgdU

Adolpho Werneck: Vida e Obra, em 2ª edição, está disponível no Clube de Autores.

Comparada à 1ª edição, houve vários desenvolvimentos:
- Confirmada sua primeira obra de 1903, "Dona Loura";
- Encontrada publicação mais antiga do que constava na 1ª edição, o soneto "Um raio de sol ou restea de luz", de 1887;
- Encontrado outro poema adicional "Noivos" de 1904;
- Orelhas no livro, com as capas das obras originais;
- Fotografia melhor dos presentes na coroação de Emiliano Perneta como Príncipe dos Poetas Paranaenses, em 1911.

Um raio de sol ou restea de luz

Offerecido ao meu amigo Hercilio Menezes

Tu és o raio do Sól
Que de longe veio cà
A buscar a escura nuvem
Para levar atè là

Tu que de longe viéste
A buscar tão pouca cousa,
E's quem ao mundo trouxeste
Tudo que nelle repousa...

Tua memoria tão celebre
E teu olhar tão risonho
Ambos sòmente me restam
Na lembrança de teu sonho.

E' teu sonho tão bonito
E' teu cantar tão correcto
Que encantam estes meus ólhos,
Como se eu fosse dilecto.

Trovas Paranaenses

    ADOLPHO WERNECK - Pouco mais de vinte anos passaram sôbre o instante em que cerrou os olhos para o mundo um inspirado e grande Poeta, talvez não tanto ignorado, quando inexplicavelmente esquecido: ADOLPHO JANSEN WERNECK DE CAPISTRANO.
    Filho da pequenina Morretes - que êle chamava "o coração do Paraná" - nasceu a 3 de Dezembro de 1877, sendo seus pais João Wernecke de Sampaio Capistrano e D.ª Maria Sorana Werneck de Capistrano.
    Já em 1903 publicava "DONA LOURA", pequeno mas expressivo livro, em cujos versos iniciais dizia:

"Versos sem arte, Dona Loura é apenas
um grito d'alma no esto da paixão.
Dize-me tu, se acaso me condenas,
como calar a voz do coração!"

    Em 1908 publicou "Bizarrias", contendo versos carregados de melancolia e tristeza, assinaladores, talvez, de amarga fase de sua vida, ou fruto não só de seus espírito atormentado, mas da própria tragédia humana, como em "Drama Eterno", quando compara o mundo a um grande teatro, e termina:

"Por vezes, tendo n'alma a escuridão da gehena,
pomos, por sôbre o rosto, a máscara -- mentira --
e, tal qual Arlequim, a rir, vimos à cena.

E cada qual, assim, desempenha o papel...
Um se vai, outro vem, a platéia delira,
e continua o drama -- a Torre de Babel.

    Sua poesia é do melhor quilate e se encontra reunida não apenas em DONA LOURA  e BIZARRIAS, mas ainda em INSONIA (1921), MINHA TERRA (1922) e ARCO IRIS (1923). Todavia, o maior acêrvo de sua arte está esparso por aí, em jornais e revistas, sob pseudonimos diversos: Ad. Janwer, Bingue, Hugo, Jansen de Capistrano, Nelson de Andrade, Plutão.
    Sua atividade literária -- poeta, jornalista, humorista e prosador -- se estendeu desde a colaboração em "Clube Curitibano" e "Vitrix", à redação de "A Notícia", "O Artista" (1892) e "O Sapo". Foi um dos fundadores de "Azul" e redigiu "Carga", revista humorística.
    Era funcionário da Delegacia Fiscal; no exercício do cargo, serviu na Alfândega de Corumbá, periodo em que esteve afastado da família, bastante magoando seu afetivo coração a saudade, a distância e o viver em terra estranha.
    Foi casado em primeiras nupcias com D.ª Maria Antonieta Fernandes Werneck de Capistrano, tendo 9 filhos, dos quais vivem: Adolpho, Aglaé e Arion. Sua esposa, em segundas nupcias, foi D.ª Alice Taborda Werneck de Capistrano, tendo, dêsse casamento, cinco filhos, todos ainda vivos.
    Muito amou sua terra natal, a serena e tranquila Morretes:

"Terra querida! Minha Terra! Terra
de sol, de luar, de sedução e brilho,
a ti eu dou meu coração que encerra
o grande orgulho real de ser teu filho!"

    Foi fundador da Academia Paranaense de Letras (cadeira 29) e figura em Antologias e Dicionarios Bibliograficos, o que de certa forma lhe perpetua o nome. Isso é pouco, porém, para quem tanto brilho deu às letras araucarianas.
    Grande poeta, merece sair da sombra do esquecimento e ser lembrado com admiração e carinho. Merece, do Paraná, homenagem semelhante àquela que Santa Catarina orgulhosamente prestou a Luiz Delfino: "NESTA CASA NASCEU O GRANDE POETA ADOLPHO WERNECK" -- porque bem lhe serve a frase por êle mesmo grifada em "Minha Terra": -- As letras fazem a glória de um País e, se honrar quem as cultiva, não menos resplandecem sôbre a Pátria que é o seu berço". -- GRACIETTE SALMON. --

Noivos

A' Dona Morena

Será nossa união
.  .  .  .  .  .  .  .  .
o duetto  .  .  .  .
de um astro e um coração.
Demosthenes de Olinda

Somos noivos, emfim!
                                   Casar-nos-emos quando
o alegre passaredo
andar cantarolando
pelas virentes copas do arvoredo.

Chegada a primavera,
a terra aberta em flores,
iremos ambos nós--doce chimera--
por uma estrada cheia de fulgores,
em direção á ermida
que se avista de cá e cujo carrilhão
pela manhã convida
os fieis á oração.

A' porta o velho cura
virá nos receber
rindo, talvez, porque nossa ventura
faz almas sans vibrarem de prazer.

Em presença do altar
contrictos ambos nós,
ao chão pregado o olhar,
murmuraremos o recebo a vós.

E pelo do hymineu sagrado laço
unidos, afinal,
voltaremos de braço,
venturoso casal,
pela mesma estrada
cheia de fulgores
ouvindo alem a alegre passarada
cantar feliz uma canção de amores.

Jansen de Capistrano

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Conversa Afinada


A rádio eParaná, 97.1, transmite nos sábados às 14h o programa de entrevistas Conversa Afinada, apresentado por Sílvio de Tarso. Cada bloco de conversa termina com boa música.

Na entrevista desse sábado 19/01, Eduardo Capistrano divulga o livro "Adolpho Werneck - Vida e Obra", falando dos trabalhos para publicação dessa obra sobre seu bisavô, além de seus próprios livros.

Não perca, 19/01, 14h, na eParaná, 97.1 FM!

Lançamento do Livro



Agradeço a todos os presentes no lançamento do livro! Logo estarei adicionando algumas fotos da ocasião.

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