Vocabulario

Meu bisneto fez questão de offerecer-lhes este vocabulario para sua commodidade:
  • : cruz.
  • : cruz.
  • abantesma: fantasmagoria, assombração, espectro.
  • Abrenuncio!: exclamação de repúdio, para rejeitar ou repelir algo com energia.
  • acoitar: abrigar, amparar, proteger.
  • alvinitente: branca e brilhante.
  • anelo: desejo, anseio.
  • anhélo: ver anelo.
  • apache: membro de notória gangue de bandidos franceses, que assolavam particularmente o distrito de Montmartre em Paris, detentores de uma exótica arma própria que combinava revólver e soqueira.
  • aranquans: aracuã ou palhaço-da-selva, nome comum dado a várias aves galiformes do gênero Ortalis.
  • aranzel: arenga, discurso prolixo e enfadonho.
  • Argos: na mitologia grega, Zeus seduziu a ninfa Io, mas sendo descoberto por sua esposa Hera, transformou a ninfa em uma vaca para ocultá-la. Hera descobriu e exigiu que Io lhe fosse entregue. Para proteger a ninfa, Hera colocou Argos, um gigante de muitos olhos (ora quatro, um para cada direção cardinal, ora cem).
  • arnez: arnês, armadura de batalha completa.
  • ascua: brasa.
  • aspeito: aspecto.
  • astrakans: astracã, pele escura de cordeiro caracul, usado em agasalhos.
  • atro: escuro, negro.
  • Atropos: uma das três Moiras, deusas gregas do destino que manipulavam o fio da vida de cada um dos mortais. Cloto o fiava, Láquesis o media e Átropos o cortava, pondo fim à vida. Seu nome significa “sem volta”.
  • Averno: nome de uma cratera próxima a Cumas, na região de Campânia, Itália, que contém um lago de mesmo nome. No Canto VI da Eneida, de Virgílio, Eneias é visitado em sonhos pelo seu pai falecido, e usa uma abertura em Averno para entrar no submundo, seguindo orientação da Sibilia de Cumas. O nome tornou-se sinônimo para o próprio submundo, e por extensão, para o Inferno cristão.
  • avondo: abundante, bastante, demasiado.
  • brandão: círio, grande vela de cera.
  • bureau-ministre: escrivaninha com gavetas e espaço para as pernas.
  • burel: hábito de tecido grosseiro.
  • cachão: jato, borbotão.
  • cachopa: cacho de flores pendente da extremidade de um galho.
  • calamo: instrumento para escrita feita de cana ou junco.
  • Camena: na mitologia romana, quatro ninfas associadas a Vênus, fontes e o parto: Carmenta, Egéria, Antevorta e Postverta, depois identificadas como Musas.
  • canicular: ardente, exaltante, passional.
  • cantochão: canto litúrgico para vozes masculinas, ladainha.
  • carrilhão: sinos arranjados em série.
  • cartel: desafio, provocação.
  • catadupa: queda d’água de grande altura.
  • cecem: açucena-branca (Lillium candidum), flor branca do gênero dos lírios. Simboliza pureza para os cristãos, aparecendo nas mãos da Virgem Maria em pinturas.
  • chavelhos: cornos, chifres.
  • colcheias: símbolo musical formado por cabeça, haste e colchete (♪), nome também da figura de ritmo que vale a oitava parte da semibreve.
  • côma: cabeleira; copa frondosa.
  • combros: elevação de terreno, outeiro.
  • cris: eclipse ou adaga de lâmina sinuosa típica da Malásia e Filipinas.
  • crivo: peneira, grade de fornalha.
  • cúpido: ganancioso, libidinoso.
  • Cythera: uma das ilhas Jônicas, da Grécia, considerada na mitologia grega como lar de Afrodite, a deusa olimpiana da beleza e do amor.
  • dandão: dão-dão, pesadelo noturno.
  • desar: desaire, desgraça, desalinho.
  • doesto: injúria, insulto.
  • egro: incomodado, enfermo, doente.
  • embahir: embair, enganar, lograr, iludir.
  • engasopá: engazopar, iludir, enganar.
  • enxara: matagal, charneca.
  • enxárcias: cabos que sustentam os mastros das embarcações a vela. 
  • ephebos: mancebos, adolescentes.
  • ephialta: grego para “pesadelo”. Efialtes era também nome de um dos gigantes Aloídas, de grande beleza, que empilharam montanhas para escalar os céus e tentar raptar Hera e Ártemis. Efialtes era às vezes considerado o dáimon, ou divindade inferior, dos pesadelos.
  • eril: éreo ou eráceo, brônzeo.
  • esto: ondas intensas, ardores.
  • estyge: um dos quatro rios do Hades, o submundo da mitologia grega, que o separava do mundo dos vivos e era navegado pelo barco de Caronte, responsável pelo transporte das almas para o reino dos mortos.
  • fadario: trabalho incessante, ou sina inevitável imposta por forças superiores.
  • faina: lida, labuta, labor.
  • falerno: referência a nativos de Falerno, em Campânia, Itália, terra de vinhos e, consequentemente, de bebedores de vinho.
  • fauce: goela.
  • ferropeias: algemas, grilhões.
  • festo: festivo, alegre.
  • fragoa: forja, fornalha.
  • gafa: contaminada, corrupta.
  • gaturamo: ave canora conhecida também por bonito-lindo e tem-tem.
  • gaudio: folia, grande alegria.
  • gazil: alegre, airoso.
  • Gehenna: nome dado ao Vale de Hinnom no Novo Testamento, como lugar onde o mal seria destruído, depois usado como sinônimo para o Inferno cristão.
  • gilvaz: golpe cortante ou cicatriz de corte no rosto.
  • goivo: flor branca ou vermelha do goiveiro, nome comum dado a várias plantas da família das crucíferas.
  • Graças: deusas da mitologia grega associadas à beleza, encanto e fertilidade, geralmente em três: Aglaia, Eufrósine e Tália. 
  • guaiar: lamentar-se, queixar-se.
  • guante: luva de ferro de armadura, autoridade tirana, poder despótico.
  • Guasca: cargueiro a vapor de 61 por 8 metros fabricado por John Elder & Co., de Glasgow, com viagem inaugural em 1874. Em 4 de dezembro de 1907, deixou Paranaguá com destino a Santos, com cerca de 70 pessoas. Por volta das 2 da madrugada do dia 5, ao largo de Cananéia (Juréia), a má visibilidade gerou confusão de sinais com o vapor argentino “San Lorenzo”, que o atingiu violentamente com a proa na meia-nau. O Guasca naufragou em pouquíssimos minutos levando consigo 29 vidas.
  • gyrandolas: girândola, rodas para suportar fogos de artifício a serem queimados ao mesmo tempo.
  • Hellesponto: nome antigo do Estreito de Dardanelos, que liga o Mar Egeu ao Mar de Mármara, no noroeste da Turquia. Ver Leandro e Hero.
  • hervado: ervado, envenenado com ervas.
  • hetaira: cortesã, meretriz.
  • hiante: de boca aberta, faminto.
  • huri: mulher paradisíaca, como as premiadas aos muçulmanos no além-vida.
  • hymineu: matrimônio, casamento.
  • irrorar: orvalhar, umedecer com orvalho.
  • Jove e a chuva de ouro: Jove, Júpiter ou Zeus, chefe dos deuses olimpianos na mitologia grega, surgiu para Dânae, mulher do rei Acrísio de Argos, na forma de uma chuva dourada, deixando-a grávida. Ela depois daria à luz o herói Perseu.
  • labéo: rótulo negativo, reputação prejudicial.
  • lacrau: lacraia.
  • Leandro e Hero: um mito grego conta que Leandro atravessava a nado todas as noites o Helesponto, entre a sua cidade de Abidos e a de Sestos, para alcançar sua amada Hero, que lhe acendia uma tocha para servir de guia. A tocha um dia apagou, Leandro perdeu o rumo e afogou-se. Assim que soube da morte de seu amor, Hero suicidou-se.
  • libar: sorver, beber.
  • lizes: flores-de-lis, lírios.
  • Lixi de Soret: Elixir de Sorèt. Veja o anúncio do produto na revista Fon-Fon, ano XVI, nº 1, de 7/1/1922.
  • lobrigar: enxergar mal, entrever.
  • lubrico: luxurioso, sensual.
  • luiz: antiga moeda francesa de ouro ou prata.
  • magano: malandro, velhaco.
  • malacara: cavalo malahado de branco da cabeça ao peito.
  • maleita: malária.
  • malta: escória, ralé.
  • mancheia: mão-cheia, profusão, abundância.
  • matroca: desorientação, falta de direção.
  • medrar: crescer, criar-se.
  • mel de hymeto: o Monte Himeto, a sudeste de Atenas, na Grécia, é notório pela apicultura, produzindo um mel de qualidade tamanha que era mencionado na mitologia como capaz de agradar aos deuses – fato referido por Ésopo em sua fábula “A Abelha e Júpiter”.
  • mendaz: mentiroso, falso.
  • mesto: melancólico, triste.
  • mofino: infeliz, desafortunado.
  • molosso: cachorro robusto.
  • nado: nato, nascido.
  • nanzuk: nanzuque, tecido leve de algodão.
  • nenia: lamento, elegia.
  • nephilibata: nefelibata, que vive nas nuvens, muito idealista, ou escritores que escapam de regras e convenções.
  • nonada: valor insignificante, bagatela.
  • nume: divindade.
  • obulo: óbolo, antiga moeda grega de valor ínfimo, virando sinônimo de esmola.
  • obuz: obus ou obuseiro, peça de artilharia como o morteiro que lança granadas.
  • Ophelia: Ofélia, personagem de Hamlet, de Shakespeare, pretendente a esposa do personagem titular, ensandece com a morte do pai Polônio, e morre, talvez em suicídio, afogando-se em um córrego.
  • Ophir: terra mítica citada na Bíblia, de onde o Rei Salomão recebia preciosidades a cada três anos.
  • opima: valiosa, rica, fértil.
  • Orago: a que se ora, oráculo.
  • orate: louco, doido, idiota.
  • orco: o submundo, o Inferno. Na mitologia etrusca, Orcus, deus do submundo, foi depois considerado equivalente do grego Hades ou o romano Plutão, e como estes teve seu nome usado para designar também seu reino.
  • oscular: beijar, dar ósculo (originalmente beijo fraternal dos cristãos antigos).
  • pampeiro: vento forte oriundo dos Pampas.
  • papalvo: simplório, tolo.
  • patranha: mentira.
  • Pedro Cem: “A Vida de Pedro Cem”, de Leandro Gomes de Barros (1865-1918), é notável obra da literatura de cordel. Pedro Cem tinha cem de tudo, e recusava-se a fazer caridade. Teve sonhos que anunciaram seu fim, mas não acreditou que era possível. Então uma série de desgraças o levaram à miséria, passou a esmolar e foi pedir a uma moça a quem havia rejeitado esmola, bem de vida graças à doação de uma marquesa. A moça lhe dá esmola, e ele cambaleia para a morte. A última estrofe do poema versa: A Justiça examinando | Os bolsos de Pedro Cem | Encontrou uma mochila | E dentro dela um vintém | E um letreiro que dizia: | “Ontem teve, hoje não tem.”
  • pegureiro: pastor.
  • pez: piche.
  • phanal: fanal, farol.
  • philomela: filomela, rouxinol, nome dado também a um instrumento de cordas semelhante ao violino, mas tocado com palheta.
  • pingalim: açoite.
  • pingo: cavalo bonito e ligeiro.
  • poldro: potro.
  • praças de pret: praça de pré, subalterno salariado.
  • prelibar: antegozar, antefruir.
  • prelio: prélio, luta, peleja, combate.
  • procella: tempestade, tormenta.
  • pthysica: tísica, tuberculose.
  • quebracho: Aspidosperna triternatum, árvore de flores vermelhas típica do Paraguai.
  • rafa: grande fome, penúria.
  • rafeiro: cão que guarda gado, e figurativamente, fofoqueiro.
  • rapace: rapinante, propenso a roubar.
  • rechã: platô, altiplano.
  • remigio: o movimento semelhante a remadas das asas das aves.
  • resedá: ervas do gênero Reseda, cultivadas pelo perfume das flores, extração de óleo e tintura amarela.
  • responso: canto litúrgico cantado alternadamente entre uma ou mais vozes de um lado e um coro de outro.
  • revel: rebelde, revoltado, desdenhoso.
  • roaz: roedor, consumidor.
  • ruana: ruão, cavalo com pelagem mesclada de branco, alazão e negro.
  • rutilo: claro, brilhante, resplandecente.
  • Schá: xá, título do soberano da Pérsia, antes da Revolução Islâmica.
  • sendal: cendal, tecido fino de seda ou linho.
  • serpe: serpente.
  • sestrosa: sagaz, esperta.
  • sirio: círio, grande vela de cera.
  • sobejo: sobra, demasia.
  • soez: desprezível, baixo, vulgar.
  • solio: trono.
  • superno: superior, supremo.
  • syrtes: bancos de areia e outros acidentes que podem comprometer a navegação marítima.
  • tala: açoite de uma tira.
  • Taneco: o diabo.
  • tangará: também chamado de saíra ou saí, nomes comuns das aves passeriformes da família dos piprídeos, com machos de cabeça colorida e fêmeas geralmente verdes.
  • tigitica: tico-tico, jesus-meu-deus, maria-é-dia (Zonotrichia capensis), ave passeriforme da família dos emberizídeos, pequenino, de cabeça escura e estriada com topete e canto característico.
  • Tisiphone: na mitologia grega, é uma das três Erínias, Eumênides ou Fúrias, deusas encarregadas de punir crimes, sendo as outras Aleto e Megera. Tisífone pune os crimes de assassinato, como o parricídio, fratricídio e o homicídio.
  • torunas: tourunas, valentes, destemidas, corajosas, derivado do nome dado ao boi mal castrado que ainda procura vacas.
  • tredo: traiçoeiro, traidor.
  • tremedal: lodaçal, charco.
  • trescale: forte perfume.
  • tugurio: casebre, choça, choupana.
  • tyrio: púrpuro.
  • tysico: tuberculoso.
  • umbela: sombrinha, pequeno guarda-chuva.
  • vellino: pele de feto bovino sobre o qual se escreve, mais fina e lisa do que  pergaminho.
  • vergel: pomar.
  • villancete: vilancete ou vilancico, composição poética e musical típica ibérica.
  • virente: verdejante, viçoso.
  • viridente: vedejante, viçoso.
  • Werther e Carlota: em “Os Sofrimentos do Jovem Werther” de Goethe, Werther nutre um amor angustiado por Charlotte, que o leva a tomar a própria vida.
  • xara: seta ou flecha em cuja preparação foi usado fogo.
  • yatagan: punhal recurvo turco.
  • zagala: camponesa.
  • zé-pereira: nome dado tanto a um tambor também chamado de zabumba ou bombo, como à procissão ou brincadeira carnavalesca em que se tocavam tais tambores.