Fagulhas

I
Beijei-te. O beijo primeiro
Sabe a mel.
Ah! não chegue o derradeiro
Que é de fel.

II
Acreditei na ventura
Um dia em que fui feliz,
Mas o goso pouco dura
E só durou-me a ventura
O que dura a flor de liz.

III
A apparencia tanto illude
Que me julgam venturoso.
Ah! quanto ser sem virtude
Que passa por virtuoso!

IV
Sonhos bons e pesadelos
Tive-os distante de ti.
Aquelles nem sei dizel-os,
Destes nunca me esqueci.

V
Choras? Signal de acre magoa
O teo pranto pode ser,
Porem de olhos cheios de agoa
Tambem se sente prazer,
Assim como, riso aos labios,
Da magoa crueis resabios
A gente busca esconder.

VI
As juras não valem nada
Quando as profere a mulher.
Si queres perder a amada
Fal-a jurar que te quer.

VII
Ninguem se queixe da vida
Por só durar um momento.
Si ella fôsse mais comprida
Maior fora o soffrimento.

VIII
Tive amores, mas agora
Não os tenho. Como flor
nasceram, nascendo a aurora,
Morreram ao sol se pôr.

IX
Dessa tua alma o mysterio
Certa vez desvendar quiz,
E, apezar do esforço serio,
Della não logrei o X.

Trabalha em vão, perde a calma,
O psychologo que quer
Saber os segredos da alma
Da mulher.

X (Sinas Iguaes)
Temos sinas iguaes. Tu, fulvo heliotropio,
Enamorado pelo sol segue-lhes o rastro,
E eu, por amor, num sonho bom, num sonho de opio,
Sigo na terra, como tu, tambem um astro.

Dirás que não ha luz que supplante a solar.
Mentira, eu te direi. Queres prova? Vaes tel-a:
De mais vivo fulgor, no mundo sublunar
Em que vivemos nós, eu conheço uma ESTRELLA...

Diario da Tarde (26/11/1910), como “Jansen de Capistrano”; Commercio do Paraná (21/08/1921), apenas o canto X com título “Sinas Iguaes”

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