Funeral de um coração

Ao Dr. Ermelino de Leão

Dão-balalão, dão-balalão, dão-balalão...
Sinos?... Ouço-os vibrando a defuntos, talvez
Tenha morrido alguem e, por essa razão,
Os sinos vibram todos juntos de uma vez.

Por quem será que dobra assim o carrilhão?
— Coveiros, homens máos, almas feitas de pez,
Abri, cantando, a cova em que o meo coração
Tem de dormir o somno eterno, ó doce ebriez.

Coitado, coitadinho, elle andava tão doente,
A chorar e a gemer continuadamente,
Sem esperança de sarar do mal atroz...

Cravou-lhe a Parca a ponta hervada do estylete.
Morreo e vae servir (quem sabe?) de banquete
Aos nojentos lacraus — terror de todos nós.

Bizarrias (1908); Victrix (1902), com a citação: "'E os sinos dobram todos juntos, | A defuntos.' (Só — Antonio Nobre)"; Stellario nº 2 (01/11/1905); Diario da Tarde (02/11/1905)

Nenhum comentário:

Postar um comentário