Olhos que quasi sempre de soslaio
Me olhaes fulgindo, como fulge um raio.
Olhos que eu olho e que quando me olhaes
Chispando, em ascua, sois como punhaes...
Olhos negros de treva, mas brilhantes
Que offuscaes os mais claros diamantes.
Nacos d’aza de corvo, contas negras
Como a desolação das almas egras.
Bagos d’uva, tão pretos como pixe,
Que eu contemplo num pasmo de fetiche.
Olhos que me falaes numa linguagem
Que a alma transporta á rutila paragem...
Astros de um brilho, como brilham poucos,
Eu vos entendo bem, olhos de loucos.
Eu sei dessa loucura de desejos,
Quereis beijos e beijos e mais beijos.
Para amainar a chamma da luxuria
Pedis que eu vos oscule numa furia.
Que como um louco, cego de furor
Eu vos cegue de beijos, meu amor!
Bizarrias (1908)
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