Na hora do Silencio

Noite. Lá fóra
alguem anda a cantar uma canção,
ao som dum violão,
que chora
como se fosse uma alma apunhalada
pelo despreso...

Abro a janela
e vejo,
como um farol aceso
a lua
que flutua
na infinita umbela.

Parece que escuto um beijo
dado ao luar...

Em cada
nota do violão soluça um ai
de coração ferido!

Como é triste o cantar
assim á noite, quando
a terra dorme e ve-se a lua rondando
o céu, como um policia...

Vai
alma infeliz e junta o teu gemido
ao gemido daquele coração
amargurado pela dôr
do amôr!

O violão
cada vez mais
soluça e a voz
do menestrel
é uma caricia
doce, como escala de bemóes...

Paixão desfeita em ais!

O’ desespero! O’ Torre de babel
dos esquecidos da sorte!

Bendito o suicida
que se matou
porque amou
e não foi correspondido;
bendito seja o punhal
bandido
que faz bem
fazendo o mal;
bendita sejas, ò Morte;
bendito seja quem tiver
força de fazer calar aquele violão,
que chora, que soluça assim como qualquer
desventurado coração!

Correio dos Ferroviários nº 7 (ABR/1935, póstumo)

Nenhum comentário:

Postar um comentário