Perversidade

(A proposito da caça de cães)

O molosso fiel de antigas eras,
O velho amigo da família humana.
Guerra Junqueiro

INHUMANO FISCAL É QUEM DIRIGE A ESCOLTA...
A’ boléa do carro, em forma de capoeira,
Um velho, rédea á mão... e a garotada em volta,
Num berreiro, a berrar como num zé-pereira.

Mal surge, ao longe, um cão a molecagem solta,
Em coro, um grito: O’ lá! O “caçador” se abeira
Do rafeiro infeliz, joga laço... O’ revolta!
O’ gana de fallar como uma regateira!

“E o molosso fiel”, o nosso leal amigo,
Preso á gorja se extorce e gane (causa dó)
Por se ver agarrado e prever o castigo...

Mas, alfim, se resigna e, aos trancos, vae levado
Dentro do carro, assim paciente como um Job,
Que ao patíbulo ascende e morre sem peccado.

Arco iris (1923); Diario da Tarde (05/02/1907), como “Jansen de Capistrano”

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