Cantigas (1)

Magoas — tem-n’as todo mundo,
Mas quero crer que ninguem
Sinta um pezar tão profundo
Como eu o sinto, meu bem.

Tu bem sabes que eu te amo
Com desmedido fervor,
Embalde, porem, te chamo
Num desespero de amor.

Não dás ouvido ao meu grito
E eu sorvo taças de fél...
Augmenta a afflicção do afflicto
O teu descaso cruel.

Atlante, vergado ao peso
Do mundo menos soffreu
Do que, teu feroz despreso
Supportando, soffro eu.

Esses teus labios de tyrio
Si se abrissem para mim,
Ao meu immenso martyrio
De prompto dariam fim.

O crepe que a alma me encobre
Um teu olhar rasgaria
E eu, que de affectos sou pobre,
Ricos de affectos seria...

E’s surda, emtanto, ao reclamo
Do meu amor tão profundo,
E eu soffro, porque te amo,
As magoas todas do mundo.

Arco iris (1923); Diario da Tarde (MAR/1910), como “Jansen de Capistrano”

Nenhum comentário:

Postar um comentário