A voz do pinheiro

O pinheiro falou: “Aos golpes do machado,
hoje um tombava ao chão, tombava outro amanhã...,
Ao perpassar do tempo, eu fiquei isolado
como uma sentinella em meio da rechã.

Quando juntos aqui, á nossa cópa, o alado
passaredo feliz, ao raiar da manhã,
trinava e o seu trinar casava ao magoado
canto cheio de amor da zagala louçã.

Ora vejo-me só ás borrascas exposto
— Erguidos para o céo em supplice attitude,
os verdes braços meus dizem do meu desgosto.

Zurze-me o vento, o sol caustica-me... Sosinho,
eu me assemelho a alguem cujo destino rude
fal-o pedir, em vão, a esmola de um carinho!

Itiberê nº 81 (JAN/1924), Sonetos Regionaes (1928)

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