Barcarola

A’ plaga azul da Chimera,
Da ventura sobre o mar,
Vae a dourada galera
Do meu dourado sonhar.

Meu coração, timoneiro
Embevecido, a cantar,
Não vê ao longe o pampeiro
Que não demora chegar.

O mar sem ondas, parece
Calmo lago em vez de mar.
Singra a galera... Anoitece.
Brilha no céo o luar.

Meu coração, timoneiro,
Feliz, feliz a cantar,
Nem adivinha o pampeiro
Que não demora chegar.

Morre a lua. O céo se offusca,
Toma aspecto tumular!
O mar (que mudança brusca)
Ruge e pega a se encrespar.

Meu coração, timoneiro,
Que adormecera a cantar,
Aos regougos do pampeiro,
Accorda a se estremunhar.

Como fugir dos escolhos?
Como os syrtes evitar?
Que é do clarão desses olhos?
Que é do pharol esse olhar?

Meu coração, timoneiro,
Bem podia adivinhar
Que não escapa ao pampeiro
Quem se aventura no mar...

Ventura? ...Célere passa
Como corisco pelo ar!
Grasna o corvo da desgraça,
Fenece a flor do sonhar.

Meu coração, timoneiro,
Entristecido, a chorar,
Vê, á sanha do pampeiro,
A galera sossobrar...

Arco iris (1923); A Noticia (30/07/1907), como “Jansen de Capistrano”; Commercio do Paraná (24/04/1921)

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