Por te poupar essa magoa
Eu faria tudo, emfim,
Que dependesse de mim.
Olho-te e sinto-me triste
Ao ver o teu ar tristonho.
Alma infeliz, jamais viste
O goso siquer em sonho.
Rosto que a magoa annuvia,
Olhos glaucos rasos de agoa,
Pobre flor! Quanto eu daria
Por te poupar essa magoa.
Dize-me, pois, o motivo
Dessa tristeza... Talvez
Possa dar-te lenitivo
Ou curar-te o mal de vez.
Dóe-me n’alma ver-te assim,
E sò por te dar prazer,
Farei tudo, tudo, enfim,
Que seja humano fazer.
Se dependesse somente
De mim poupar-te o cilicio,
Por poupar-t’o, alegremente
Fôra até o sacrificio.
Sorvera de fel o calix,
Cravara no peito um cris...
Quem poupa os alheios males
(Soffra embora) é um ser feliz.
Arco iris (1923); Diário do Paraná (27/01/1957)
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