E, tomando-me as mãos, disse-me: “Amigo...”
Tive um gesto de horror ante a figura
Dessa infernal e tetrica creatura!
Comprehendendo-me o medo, Belzebuth
Fixou-me os olhos: “Porque tremes tu?
“Não te infundam pavor os meus chavelhos,
“Vim te falar para te dar conselhos.
“Quer os ouça, quer não, pouco me importa.
“Dou-t’-os a ti, por que isto me conforta.”
— “Perdão... aventurei, mas eu, agora,
Não vos posso escutar; alguem, lá fóra,
A’ minha espera está... n’outro momento
Ouvir-vos-ei, com mais vagar, attento...”
Com que terror, olhando-o (unhas e rabo,
Chifres recurvos) eu falava ao Diabo!
A tremer, como creança que se espanta,
A voz quasi morria-me á garganta.
Fôra immenso prazer, se eu me livrasse
De tel-o ali, tão perto, face a face.
Que allivio ao coração, morto de susto,
Não pôr eu olhos sobre aquelle busto.
Mais um instante, eu morreria, certo,
Eu tendo-o, assim, a me falar tão perto.
Ouvil-o, horror!... A bocca, se elle a abria,
Era uma pyra, pois toda ella ardia!
Que desespero! que afflicção! que luta!
Por me conter ante essa cara bruta!
“Paciencia, amigo... Ouve-me, eu desejo
Que te seja tão doce, como um beijo,
A vida; quero ver-te satisfeito
Como quem é da f’licidade eleito.”
— “Pois bem, falae...” E o Diabo disse apenas:
“Conseguirás as venturas terrenas
“Se fores mau... Sê mau... Digo-t’o eu...”
. . . . . . . . . . . . . . . . .
— Bello conselho Satanaz me deu!
Album do Paraná nº 8-9 (1920)
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