Versos de antanho

Ao illustre amigo Dr. Bernardo Veiga

Por pelejar, talvez, com mais de trinta
Rivaes, um cavalheiro, a disparada,
De arnez, e lança em riste, e espada á cinta,
Vae como louco por deserta estrada.

Entrementes lhe grita uma voz fraca:
— Onde vos vades vós a toda brida?
O cavalheiro, presto, o pingo estaca
E diz: — Quem me tolheu nesta corrida?

Apparece-lhe, então, subito, á frente,
Um homem, de alvas cans todo coberto,
E murmura: — Fui eu, joven valente,
Por vos poupar de um sacrificio certo.

— Posto que eu vos conheça toda a fama
Conquistada em torneios singulares,
Não vale a pena, por ingrata dama,
Enfrentardes da sorte os mil azares.

— Eu, como vós, (talvez na vossa idade)
Em justas com rivaes prodigios fiz,
E em paga de tamanha heroicidade
A ingratidão matou-me como um cris.

— Não tende vós experiencia ainda
Do mundo (Jano da Mythologia)
Agora o vedes pela face linda,
Mas heis de vel-o pela feia um dia.
.........................................................

Convicto que de um velho conselheiro
Quasi sempre a palavra é uma licção,
Retrocede o animoso cavalleiro
Depois de murmurar: — Vale, ó ancião.

Arco iris (1923); Diario da Tarde (21/10/1910)

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