Soliloquio de um infeliz

Porque ser bom? Porque fazer o bem? Ter pena
De quem soffre, porque? si quem no peito aninha
A piedade, talvez, nesta vida terrena
Mais beba o amargo fél da desdita mesquinha!

Que importa a alheia dor tenha rugidos de hyena
E rasgue corações como garra damninha!?
No mundo quem é mau pisa um chão só de penna
Emquanto quem é bom sobre tojos caminha!

Olhemos, sem pezar, o misero casebre
Onde o mal penetrou e onde ardem em febre,
Num delirio voraz, mãe e filhos sem pão...

Ser bondoso, porque? Que vale dar a esmola
Se o ser feliz a dor dos outros não consola
E a ventura não sabe o que é ter compaixão?!

Arco iris (1923); Album do Paraná nº 7 (1920)

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