Pássaro Rubro

I
Toda manhã, apenas era nado
O sol, um rubro passaro pequeno,
De minha casa á beira do telhado,
Vinha entoar um dulçuroso threno.

E eu minutos felizes embalado
Por esse canto de harmonia pleno
Ficava, como ser afortunado
Que logra se afastar do humano ceno.

Um dia, emtanto, concebi o plano
De armar um laço ao pobre passarinho
Que se deixou incauto apresionar.

Tornei-me então o seu maior tyranno,
Arrancando-o á caricia do seu ninho,
Tirei-lhe a liberdade de voar.

II
Num carcere de arame colloquei-o,
E elle, a principio, por se ver liberto,
Se debateu no torturante anceio
De quem se encontra num momento incerto.

Alfim com a pena a conformar-se veio.
Uma manhã de sol quase encoberto,
Ao despertar senti o teu gorgeio
De goso encher-me o coração deserto.
D’ahi por diante, dia sobre dia,
Ouvi-lhe o canto; subito, porem,
Atacou-lhe da matta a nostalgia.

Entristeceu, soltei-o e nunca mais
Tornou aqui o passarinho... quem
Volta, se escapa, ao meio dos chacaes?

Itiberê nº 37 (MAI/1922); O Olho da Rua (08/07/1911)

Nenhum comentário:

Postar um comentário