Hortencia

Hortencia
encanta-me a existencia.
A luz do seu olhar
aclara-me o caminho
que váe ter
ao solar
do prazer.
A sua voz, tão doce
como se fosse
o trinado
de um passarinho,
embala-me, á maneira de uma rede
de setim.
Mata-me a sêde
do amor
o apaixonado
beijo dessa Flor.
Ai! de mim
se não tivesse a caricia
das suas mãos de velludo,
e essa delicia,
esse beijo de amor que vale tudo

Seja sonho ou não seja, que me importa!
Essa illusão
me conforta
o coração.
Não existe
essa mulher
que me não quer
ver triste?
Supponho
que não sonho...
Irreal
ella não póde ser, por que acordado
eu a tenho tido, por signal
a meu lado.
Quanta vez
Hortencia entra-me o quarto
e dá-me a embriaguez
desse vinho de amor
de que me farto
E bebedo, adormeço,
E assim dormindo,
Teço,
como uma aranha, em torno de alva flor,
tece a sua teia,
o poema mais lindo
que já alguem compoz...
Depois,
ao despertar, procuro-a... Não n’a vejo!

Anseia
a minh’alma, em febre,
por ella e por seu beijo
capitoso,
para que me alquebre
após levar-me ao paramo de goso.

Sem Hortencia
ser-me-hia a existencia
um caminho
de espinho
que iria ter
ao Não-Ser
da Grande Paz
que ninguem quer!
Bemdita seja, pois, esta mulher
que me faz
viver, emfim,
ditoso
assim
como quem
outro desejo
não tem
afóra o do seu beijo
capitoso
como um vinho
que embriaga
e me transporta,
num adejar de passarinho,
á plaga
onde a Tristeza é morta

Inspiração dos versos que componho,
musa querida,
sonho de amor, meu grande sonho, sonho
da minha vida!

Commercio do Paraná (04/12/1921)

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