Soneto de um triste

Ao Thiago Peixoto

Atraz d’Ella, a correr, mais agil do que um gamo
Eu me vou, mas em vão... Ella foge de mim
Como o vento, veloz. Felicidade, eu clamo,
E se me perde a voz pelo espaço sem fim.

Adoravel mulher, vinde a mim que vos amo,
Aspiro vos sentir ao lado meo, assim...
Falae, eu quero ouvir cantar um gaturamo,
Ou doce harpa tangida á mão de um cherubim.

Fôra um sonho, talvez, mas quem me déra, um dia,
A’ porta de meo lar chegasseis, de surpresa,
E todo elle invadisse uma extranha alegria.

E nunca, nunca mais eu me visse tão só,
E tão cheio de dôr e cheio de tristesa,
E não mais reflectisse a desdita de Job.

Bizarrias (1908)

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