Sexta-feira

Ao Florido Cordeiro

Dia de boi-tá-tás, de lobishomens, dia
Em que (contam vovós) o diabo deixa o orco
E pelas ruas anda a fazer bruxaria
Transformado num cão, ou transformado num porco.

Outr’ora, annos atraz, oração se fazia...
Velhas, no templo, a orar, arcadinhas, de borco:
“Livrae-nos bom Jesus de todo mal... Maria
Compaixão para nós e para elle um enforco”.

Forte superstição que os tempos não consomem!
Infeliz pobretão anemico ainda agora,
Entre o povo sem luz passa por lobishomem.

... Dia de Satanaz, não posso, embora queira,
Querer-te a ti, não crendo em boi-tá-tás, embora,
O’ Sexta-feira! Sexta-feira!! Sexta-feira!!!

Bizarrias (1908); Diario da Tarde (26/05/1905)

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