Pró Dama

Ao Dario Vellozo

I
Cavalleiro do Amor, dispara, a toda brida,
Em defensão da tua Dama, cavalleiro
Esporeia o corsel, vibra o tala, a corrida
Seja como um fuzil riscando o Azul inteiro.

Não ha tempo a perder para salvar-lhe a vida
Arrancando-a da mão de audaz aventureiro.
Eia, a caminho, pois! Upa! antes que, vencida,
Ella tombe, afinal, como tomba um guerreiro.

Parte, mas parte já, sem perda de um segundo,
A correr, a correr mais agil do que o vento
Cuja força brutal faz balançar o mundo.

Nada te impedirá... Na furia de procella,
Barreiras, si as houver, vencerás n’um momento.
Cavalleiro do Amor, a caminho por Ella...

II
E, sem detença, o cavalleiro, a desfilada,
Se foi, vibrando no ar — fli-flak — o pingalim.
Um louco se diria ao vel-o pela estrada
Cego aos perigos (X!) gineteando assim.

Castigarei, sem dó, tamanha audacia, nada
(Por Satan e por Deus!) me ha de impedir a mim
De castigal-o — máo! — atravessando a espada
De meio a meio o coração desse Arlequim.

... Exijo o sangue teo para remir teo crime,
Judas de Kariot, que, por dinheiro 30,
Venderias Jesus, o martyre sublime.

E, apenas acabára de falar, certeiro
Fundo golpe vibrou, deixando a espada tinta
E lançando por terra o audaz aventureiro.

III
Não se erguerá jamais. Matei-o. Todavia
Me não punge siquer do remorso o aguilhão.
O castigo foi cruel, mas a mim me cumpria
A salvo te arrancar dessa arrojada mão.

Um exemplo que fica... Em troca da ousadia
Teve a morte; morreo; eil-o morto no chão.
Alguem o chorará? Talvez — Ave-Maria! —
Nem lhe rezem por alma um triste cantochão.

Ha de marcar-lhe a cova atra † de madeira.
Qual se fôra um aviso: incautos: tende mão!
Não vos approximeis desta horrida caveira.
.    .    .    .    .    .    .    .    .    .    .    .    .    .    .    .    .    .    .
Alviçaras Formosa, alviçaras! Emfim
Tenho-te ao lado meo, numa ressurreição,
E salva, por signal, da mão dese Arlequim!

Bizarrias (1908); Diario da Tarde (17/06/1905)

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