Mendiga

Ao Dr. Claudino dos Santos

Velha, muito velhinha mesmo, a coitadinha
Vergada, como um C, ou como um arco torta,
A’ caridade extende a mão, pobre velhinha
Um obulo pedindo, anda de porta em porta.

— “Por amor de Jesus á velha uma esmolinha...”
Já lhe custa falar... Pobre! Não n’a conforta
Um carinho siquer... Vive triste e sosinha
E a Dor, como um punhal, o coração lhe corta.

O lar, tinha-o feliz, mas um dia a Desgraça
Entrou-lhe porta a dentro, assim como uma traça
E tudo destroçou, deixando-a sem vintem.

Hoje, ao peso da Dor e dos annos, vergada,
A’ Caridade extende a mão escaveirada
Qual se fôra a mulher do infeliz Pedro Cem.

Bizarrias (1908); As Armas e as Letras do Paraná

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