Dandão

Ao Raul Gomes

I
Horrível sonho... †††! ... Pesadelo
Cuja recordação
Põe-me de pé cabello por cabello,
Marmorisa-me todo o coração!

Do medo as carnes relha-me o açoite,
Parece o ar me falta
Ao lembrar que passei inteira a noite
Sob o terrível guante da ephialta.

II
Mal cerro os olhos vejo de mim rente
A Morte, por signal
Uma mulher com geito de doente
Que fugisse de um catre de hospital.

E logo após (sou eu a testemunha)
A lamina senti
Da ceifadora foice que ella empunha
Atorar-me o pescoço, bem aqui...

III
O coveiro a cantar alegre trova,
Alheio á alheia dor,
7 palmos medio, após a cova
Começou a cavar, bom cavador.

IV
Eis-me agora entre vermes sob a areia,
Com que sofreguidão
Um bando de lacraus se banqueteia
Carcomendo-me todo o coração.

V
Desta morte cruel, tal como Christo
Venho de resurgir.
Alleluia! Alleluia! Tudo isto
Não foi mais do que um sonho de Fakir!

Bizarrias (1908); A Notícia (01/07/1907)

Nenhum comentário:

Postar um comentário