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Ao Raul Darcanchy

Vou me casar e não conheço ainda
A minha noiva, porem sei
Que ella é tão linda, chiii! tão linda
Capaz de seduzir um rei.

Vi-a uma vez em sonho e nunca mais, risonho,
Tornei a vel-a, nunca mais...
Ah! não n’a vi... sonhei que a vira em sonho
E o sonho é uma illusão fallaz.

E já vem perto, muito perto o dia...
Abrem-se as alvas flôres do hymineu.
Ella de branco, como a neve fria,
(Contraste singular!) de preto eu.

Mas eu de preto, todo riso, rindo,
E ella de branco entristecida
E cabisbaixa reflectindo
Na união de toda vida.

Serei Romeu, ella será
A meiga Julieta, e, para ella, eu
Todo ternura, todo affectos — ah!
Mais zeloso serei do que Romeu.

As moças são assim, casam por gosto
Mas choram tanto, tanto, tanto,
Que lhes innundam todo o rosto
As perolas alvissimas do pranto.

Porque chorar? Porque, donzellas,
Lacrimejaes?
Não quereis esfolhar vossas capellas
Virginaes?

Tendes razão... chorae! A Hypocrisia
E’ um monstro, é tal qual
Um hyppocentauro, uma harpia,
E ha quem illuda para fazer mal.

Eu, porem, com que carinho,
Com que cuidado hei-de cuidar
Da eleita do meo coração, espinho
Algum ha de espinhal-a, por azar.

Werther amou Carlota...
Confrontae-o comigo, elle amou pouco;
Amou como um idiota,
Eu amo como um louco.

Leandro morreu por Hero, e, assim tambem,
Eu morreria atravessando a nado
O Hellesponto, morreria... dlem!
E dão-ba-la-lão! sino a finado.

Perdera a vida — vermes! — que me importa
A vida sem amor, amortecida
A alma se tem... Um beijo nos conforta
Porque a mulher tem á bocca o elixir da vida.

Os convivas já vêm... Loucos! Ainda
Eu não conheço a minha noiva, apenas sei
Que Ella é tão linda, chiii! tão linda
Capaz de seduzir um rei...

Bizarrias (1908)

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