Apenas a cabeça ao travesseiro deito
Procurando no somno um dulcido descanço,
Um phantasma augural, pé ante pé, de manso
Vem se abeirar do meu desalinhado leito.
Ao vel-o, do terror, eu sinto o duro effeito.
Estremece-me o corpo um estranho balanço.
Pasmo fico... e depois, a perguntar-lhe avanço:
Que vens fazer aqui visão de negro aspeito?...
Nada, porem, me diz essa visão que á noite,
Como quem não encontra um canto onde se acoite,
Vem perturbar-me o somno e perturbar-me a paz...
E na fria mudez de quem perscruta o Vago
Fico a pensar, e alfim, ao coração indago:
Não será o remorso esse phantasma audaz?...
Azul (1900)
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