Triste

A alma, como um jardim, reflorescida
De sonhos e illusões eu tinha então
E perenne prazer julgando a vida
Presa á bocca trazia aurea canção.

Nem siquer suppuzera que ferida
Viria a tel-a, emfim, pelo aguilhão
Da descrença, que é como do homicida
A adaga que atravessa um coração.

Hoje, viuvo da alegria, mesto
O coração eu tenho, não o inflamma
O sol do amor vivificante e festo.

E a vida sem amor é uma tortura,
E eu soffro e triste sou, pois só quem ama
A’ bocca leva a taça da ventura.

Arco iris (1923)

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