Soneto (2)

Depois de procellosa tempestade...
Camões

De resto, a vida não é má. A gente
Soffre no mundo, mas contrabalança
A magoa, que lacera como lança,
O riso que se ri quando contente.

O coração que chora amaramente
Num choro dolorido de creança
Se transforma de subito á esperança
De claros dias de viver ridente.

Para julgar momentos de ventura
Mister sentir-se a sensação do agudo
Estilete de asperrima tortura...

Pois só se pode o goso aquilatar
Depois de ser batido pelo rudo
E rispido ciclone do desar.

Coritiba-Paraná
Diario da Tarde (24/06/1910)

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