penetrava-me o seio,
fazendo-me sonhar...
Pela manhã, apenas era nado
o sol, vinha acordar-me o seu trinado,
vinha esperar-me o seu doce cantar.
Então eu, do meu leito, pressurosa,
á voz melodiosa
desse alado cantor,
sabia e, descerrando, incontinente,
a janella do quarto, a alma dolente,
sentia desbrochar como uma flôr...
Horas a fio, ouvindo-o eu me embebia
de uma estranha alegria
de um immenso prazer,
porque esse trilo, como um beijo suave,
fazia-me da vida um chilro de ave
e me augmentava o anceio de viver.
Certo dia, porem, o passarinho
cujo canto era um vinho,
para mim, cordial,
não me veio acordar com seu gorgeio
e esse silencio penetrou-me o seio
como acerada ponta de punhal.
Presa de idéas más, abro a janella
e olho o jardim... Que bella
floração! Os rosaes
esplendem! Multicores borboletas
voam das rosas para as violetas numa
ansia de quem quer sugar de mais...
E o passaro meu Deus?! Nisto um pipilo
escuto e, por ouvil-o,
o meu olhar percorre
todo o jardim, onde, afinal, diviso,
numa áléa, sobre o calix de um narciso,
o passarinho azul, na hora em que morre.
Quem o matou?! Não sei. Desde esse dia,
Nunca mais á alegria
pulsou-me o coração.
A morte desse trovador alado,
cujo canto era balsamo sagrado,
morreu-me d’alma a ultima illusão.
Nunca mais, nunca mais esse gorgeio
ha de invadir-me o seio,
enchendo-o de prazer...
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Esse passaro azul era a esperança,
era um sonho d’amor que não se alcança,
mas justifica esta ansia de viver.
Curityba.
Itiberê nº 30/32 (DEZ/1921)
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