No ermo

Deixa-me aqui, na paz deste recanto obscuro,
Como triste ermitão que sonhou ser feliz
A’ luz de um grande amor, que se tornou perjuro
E do mal que lhe fez conserva a cicatriz.

Derrocada cruel!... Castellos de futuro,
Alegrias de sol, sonhos brancos de liz,
Tudo, tudo rolou, como no leito escuro
Desse estyge infernal róla o ser infeliz!

Quero viver agora alheiado ao ruido
Da cidade... Ermitão, a chorar sua desdita,
Sem que lhe ouça alguem o magoado gemido...

Em paz, deixa-me aqui... O isolamento é morte.
Isolar-se é morrer longe da humana grita,
Sereno como um Deus, nesse ultimo transporte!

Arco iris (1923); Itiberê nº 35 (MAR/1922)

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