Illusão morta

I
Pluma ao vento... Cavalleiro,
por que vos vades?... Talvez
nesse andar de aventureiro
venha a quebrar-se esse arnez!

Não sois, porem, o primeiro
e nem o ultimo sereis
a caminhar, caminheiro,
com tamanha impavidez!

Ao coração, como cégo,
obedeceis e seguis,
sem o minimo temor...

Emtanto, attentae ao pégo
onde fui ter quando quiz,
como vós, glorias de amor!

II
Eu, desdenhando de tudo,
parti, ao florir dos annos,
por caminhos de velludo,
sem pensar nos desenganos.

Mas, se me quebrou o escudo,
e entrei a soffrer os damnos
de quem palmilha este rudo
trilho de cardos tyrannos.

A crença, que ia commigo,
abandonou-me em caminho,
ao ver-me tombar ao chão...

E retornei — um mendigo
de alma rôta pelo espinho
de amarga desillusão!

III
Ninguem pensa quando é moço
nos contratempos da sorte.
A mocidade é o alvoroço
de quem se alheia da morte.

Não se enxerga aos pés o fôsso
onde, de Atropos ao córte,
a vida se esvae no esboço
de um sonho de tinta forte...

Quanto sonho azul na idade
em que se vae á conquista
de um coração de mulher!

Acena a felicidade,
miragem que illude a vista
de quem alcança-la quer!

IV
Quem me visse outrora quando
fiz-me aos torneios do amor,
batera palmas, cantando
os feitos do vencedor!

Não se me dava que em bando,
num acesso de furor,
mandasse rivaes, tramando
contra o meu grande valor!

Florete á mão, á luz de helio,
ou sob o clarão de diana,
enfrentei-os, como a infieis!

Vencido, afinal, num prelio,
ao ver-me tombar, a humana
maldade esmagou-me aos pés!

V
Agora desilludido
sou de tudo deste mundo,
por que o muito que hei soffrido
deixou-me um sulco profundo...

Depois que tombei vencido
pelo Destino iracundo,
meu coração combalido
guarda a amargura no fundo.

Sonhos de amor! É da vida
cantar victorias agora
e soffrer depois o damno...

Seguio-me a Illusão na ida
e voltei — alma que chora —
pela mão do Desengano!

Coritiba — 1922.
A Flammula (JUN/1922)

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