De mira-mar

Desta praia que ao sol reverbera distendo
Agora o meu olhar por sobre o vasto oceano
Em cujo dorso, á cruel furia de vento horrendo,
Passam, perpassam naus, correndo a todo panno.

Ondas vêm de roldão, chocam-se após... Em vendo
O mar irado assim, nesse rugir insano,
Tirito de pavor, que a esse quadro tremendo
Não pode resistir o coração humano.

Desarvora-se agora um veleiro, que á praia
Vem dar; logo depois outra barca é partida
E gritos de afflicção se perdem pelo ar...

E a vaga se avoluma indifferente á guaia
Dos nafragos ao léo... Quanta gente na vida
Em cuja alma se aninha a impiedade do mar!

Arco iris (1923)

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