De longe (2)

Eu vivia a rir emquanto
Tinha-te junto de mim;
A tua ausencia, entretanto,
Deixou-me tristonho assim.

Nunca mais tive alegria
Depois que daqui partiste;
Minh’alma desde esse dia
Tornou-se uma cella triste.

Olhos em pranto e tristonho,
A’s vezes, pensando em ti,
Presumo que, esperto, sonho
Que só em sonho te vi.

O Destino, se quizesse,
Pudera poupar-me a dor
Da ausencia, que me parece
A sepultura do amor.

Embora no pensamento
Tenha-te sempre o perfil,
Pungem-me a todo o momento
As iras do fado hostil.

Ausencia — mãe da saudade,
Saudade — duro aguilhão
Que retalha, sem piedade,
As fibras do coração.

Como é triste a sorte minha!
Retorna... Quero-te aqui...
Se tardares, andorinha,
Talvez saibas que eu morri!

Itiberê nº 45/46 (JAN-FEV/1923)

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