Passarinho feliz

A Benedicto Costa

Pousado em um pinheiro, que parece
Esmeraldino para-sol aberto,
Dês de manhã até que entenebrece.
Canta um canario á minha casa perto.

Em ouvindo-lhe o trino, o meu deserto
Peito, como um jardim, todo floresce.
— Passarinho feliz, ninguem, por certo,
Como tu a tristeza desconhece!

Invejo-te, canario, a bella sorte:
Cantar, cantar desde o nascer á morte,
Como se a vida fôra uma canção!

Quizera, como tu, ser passarinho,
Para da magua não sentir o espinho
Que me lacera o triste coração!

Arco iris (1923); Diario da Tarde (18/01/1910), com o título “Canario feliz”, a nota “Botiatuvinha–Dezembro–1909” e versos differentes: 
Pousado em um pinheiro, que parece
Esmeraldino para-sol aberto,
Dês da manhã até que a noite desce 
Trina um canario, á minha casa perto.

Ouço-lhe o canto e, ouvindo-o, o meu deserto
Peito, como jardins, todo floresce. 
— Passarinho feliz, ninguem, por certo,
Como tu a tristeza desconhece!

Invejo-te, canario, a bella sorte:
Cantar, cantar desde o nascer á morte,
Como si a Vida fôra alma canção. 

Quizera ser tambem um passarinho 
Para da magua não sentir o espinho
Que dilacera o humano coração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário