A morte de um passaro

A’ memoria de Emiliano Pernetta

A floresta, de luto,
E’ triste agora...
Attento embora,
Não escuto
A doce voz dos passaros; a voz
Que nos encanta
Dos rouxinóes.
Não canta
A philomela... Emtanto, quando o sol
Nasce, a floresta
E’ uma festa:
Cada garganta é um sustenido,
Cada garganta é um lá bemol...
Que bom! Que bom encher o ouvido
Desse gorgeio
Mago, que tem o dom
De penetrar o seio...
Que bom!
***
Porque será tanta tristeza?
Não se ouve, siquer,
Um passaro cantar, ao rosicler
Da aurora que desponta, qual princeza
Ideal...
Jamais eu vi
Silencio igual
Aqui.
Nunca a alvorada
Com seu fulgor de opala
Deixou de ter para saudal-a
Uma ballada...
***
Ah! eu já sei
Porque é muda a floresta... Certa vez
Ouvi contar que quando o rei
Dos passaros fenece, nesse dia
Emmudece a cotovia
E não canta o rouxinól...
E é por isso talvez,
Que sem trinados vem nascendo o sol!
.   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .
Um gatoramo de ouro,
Mais rico que um thesouro,
Que vivera a cantar, feliz... feliz...
De subito morreu... Morreu supponho,
Sem pezar de morrer, porque quem quiz
Fazer da vida um luminoso sonho
Não podia temer esse transporte
Do sonho Vida para o sonho Morte!

Commercio do Paraná (20/02/1921)

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