Ballada

Andei de Herodes a Pilatos
Atraz de ti, ó dama ideal,
Soffrendo sempre os duros tratos
Do teu despreso sem igual,
O coração sangrou-me tanto,
Verti taes lagrimas de dor,
Que até me assombra como o pranto
Não afogou tamanho amor!

E’ muito triste amar-se alguem
Que ri de nòs, que não nos quer...
Como nos dóe nalma o desdem,
— Arma terrivel da mulher!
A chamma intensa do desejo
Dentro de mim era um volcão...
Quanto eu daria por teu beijo,
No louco ardor dessa paixão!

Tudo passou... E desse sonho
Apenas resta, embora vaga,
Uma lembrança, que supponho
Do tempo a esponja não apaga!
O mutuo amor é uma delicia,
Os que se querem são felizes...
Por que não tive tua caricia,
Guardo da dor as cicatrizes!

OFFERTA

Se te não dóe a desventura
De quem te quiz com tanto ardor,
Perdôa ao menos a loucura
De recordar tamanho amor!

Arco iris (1923), Commercio do Paraná (07/11/1920)

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