Ao som da viola

A Frederico Werneck

Eu quero crer que o teo beijo,
Se m’o déras, por ventura,
Teria o sabor do queijo
Misturado á rapadura.

Mecê me julga mendaz,
Duvida de mim, tyranna,
E a mecê eu quero mais
Que a minha egua ruana.

Não podes mais ter segredo,
Teos olhos de verde-gaio
Fallam desde manhã cedo,
São tal qual um papagaio.

Cupido rapaz travesso,
Faz alvo no coração...
Vira a gente do avesso,
De muitos tira a razão.

Tenho visto muita dama
Mas nem uma me agradou...
Por ti já fiquei de cama,
Quasi o Diabo me levou.

Se eu te não topasse um dia,
Por acaso, em meo caminho,
Presumo que ainda seria
Livre como um passarinho.

Desta paixão que redobra
De calor, eu não me escapo...
Mecê me attrahe como a cobra,
Eu me entrego como o sapo.

A Marocas de nho Jango
De mecê distante fica
No batuque do fandango
Quando a viola repinica.

Mecê na dansa dá pancas,
Quebra o corpo de feitio
Que, mal comparando, as ancas
Oscillam como um navio.

Desta nossa redondeza
A dama mais “parecida”...
Em fallando de belleza
Mecê vae de colla erguida.

Hei-de, tangendo a viola,
A todo mundo dizer
Que é mecê quem me consola
E me dá muito prazer.

Curityba – Março – 907.

Olho da Rua nº 1 (13/04/1907), como “Bingue”

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