Ao luar

Venho cantar a serenata
Do meu amor á tua porta
Emquanto a lua, alva de prata,
Percorre o céo nest’hora morta.

Meu coração, doida creança,
Anda por ti a suspirar.
Quantos na rede da esperança
Vivem como elle a se embalar!

Embalde minha voz dorida
Corta da noite a doce paz!
Talvez por ti não seja ouvida
A escala triste de meus ais!

Alma inditosa a que se expande
Cantando ao luar o seu amor...
O meu amor é muito grande
Mas teu desdem ainda é maior...

Sonha feliz, emquanto eu vélo
A sós aqui, nesta hora alta.
Que te não punja um pesadelo,
Não te amargure uma ephialta.

Por te ferir como uma setta,
Não te desperte o meu cantar.
Antes sê mouca á voz do poeta
Que o seu amor canta ao luar.

Fanal nº 15-17 (ABR-JUN/1913)

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