Anno novo

Passa um anno, outro vem, succedem-se e a esperança
Que com um se extinguio com o outro revigora,
E nossa alma, afinal, que é uma ingenua creança,
Sorri, por lhe sorrir um sonho bom agora.

E assim vivemos, nós... Quando suave, á bonança,
A nave da illusão deslisa mar áfora,
Não guardamos siquer pequenina lembrança
Da magoa que passou e a nossa alma se enflora.

A vida se traduz na esperança; si temos
Agora a nos pungir a dor, logo, em seguida,
Vemos florir de goso os brancos chrysantemos.

Passa um anno, outro vem e deixamos no olvido
As agruras crueis dos temporaes da vida,
Pelo summo prazer que nos é promettido.

Arco iris (1923); Commercio do Paraná (01/01/1913)

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