Terror presago

A Thiago Peixoto

Contricto, me ajoelho, e á indefinida Altura
Elevo, muita vez, o meu olhar e indago:
O motivo porque me acobarda e tortura
Todo o meu coração um receio presago.

E longo tempo assim, nessa estranha postura,
Invocando o Senhor, esse divino Orago,
Levo, cheio de fé, e minh’alma procura
Descortinar, em vão, este mysterio vago...

Sem esperança ter... Por fim desanimado
Ao chão eu volvo o olhar, e como um desgraçado
Filho da magoa atroz e da dor inclemente,

Que martyrisa tanto, e que tanto espesinha,
Maldigo este terror que me punge e amesquinha
E ponho-me a chorar desesperadamente.

Azul (1900)

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