Trovas Paranaenses

    ADOLPHO WERNECK - Pouco mais de vinte anos passaram sôbre o instante em que cerrou os olhos para o mundo um inspirado e grande Poeta, talvez não tanto ignorado, quando inexplicavelmente esquecido: ADOLPHO JANSEN WERNECK DE CAPISTRANO.
    Filho da pequenina Morretes - que êle chamava "o coração do Paraná" - nasceu a 3 de Dezembro de 1877, sendo seus pais João Wernecke de Sampaio Capistrano e D.ª Maria Sorana Werneck de Capistrano.
    Já em 1903 publicava "DONA LOURA", pequeno mas expressivo livro, em cujos versos iniciais dizia:

"Versos sem arte, Dona Loura é apenas
um grito d'alma no esto da paixão.
Dize-me tu, se acaso me condenas,
como calar a voz do coração!"

    Em 1908 publicou "Bizarrias", contendo versos carregados de melancolia e tristeza, assinaladores, talvez, de amarga fase de sua vida, ou fruto não só de seus espírito atormentado, mas da própria tragédia humana, como em "Drama Eterno", quando compara o mundo a um grande teatro, e termina:

"Por vezes, tendo n'alma a escuridão da gehena,
pomos, por sôbre o rosto, a máscara -- mentira --
e, tal qual Arlequim, a rir, vimos à cena.

E cada qual, assim, desempenha o papel...
Um se vai, outro vem, a platéia delira,
e continua o drama -- a Torre de Babel.

    Sua poesia é do melhor quilate e se encontra reunida não apenas em DONA LOURA  e BIZARRIAS, mas ainda em INSONIA (1921), MINHA TERRA (1922) e ARCO IRIS (1923). Todavia, o maior acêrvo de sua arte está esparso por aí, em jornais e revistas, sob pseudonimos diversos: Ad. Janwer, Bingue, Hugo, Jansen de Capistrano, Nelson de Andrade, Plutão.
    Sua atividade literária -- poeta, jornalista, humorista e prosador -- se estendeu desde a colaboração em "Clube Curitibano" e "Vitrix", à redação de "A Notícia", "O Artista" (1892) e "O Sapo". Foi um dos fundadores de "Azul" e redigiu "Carga", revista humorística.
    Era funcionário da Delegacia Fiscal; no exercício do cargo, serviu na Alfândega de Corumbá, periodo em que esteve afastado da família, bastante magoando seu afetivo coração a saudade, a distância e o viver em terra estranha.
    Foi casado em primeiras nupcias com D.ª Maria Antonieta Fernandes Werneck de Capistrano, tendo 9 filhos, dos quais vivem: Adolpho, Aglaé e Arion. Sua esposa, em segundas nupcias, foi D.ª Alice Taborda Werneck de Capistrano, tendo, dêsse casamento, cinco filhos, todos ainda vivos.
    Muito amou sua terra natal, a serena e tranquila Morretes:

"Terra querida! Minha Terra! Terra
de sol, de luar, de sedução e brilho,
a ti eu dou meu coração que encerra
o grande orgulho real de ser teu filho!"

    Foi fundador da Academia Paranaense de Letras (cadeira 29) e figura em Antologias e Dicionarios Bibliograficos, o que de certa forma lhe perpetua o nome. Isso é pouco, porém, para quem tanto brilho deu às letras araucarianas.
    Grande poeta, merece sair da sombra do esquecimento e ser lembrado com admiração e carinho. Merece, do Paraná, homenagem semelhante àquela que Santa Catarina orgulhosamente prestou a Luiz Delfino: "NESTA CASA NASCEU O GRANDE POETA ADOLPHO WERNECK" -- porque bem lhe serve a frase por êle mesmo grifada em "Minha Terra": -- As letras fazem a glória de um País e, se honrar quem as cultiva, não menos resplandecem sôbre a Pátria que é o seu berço". -- GRACIETTE SALMON. --

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